quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Dias sem paz, de espera.

À espera de algo maior que a liberdade, algo que ainda não tem nome, como já dizia Lispector.

Existe uma palavra que eu gosto muito, e essa palavra é LIBERDADE. Independente se eu a tenho ou não, sempre gostei da palavra, do significado, da entonação que ela dá. Se a gente for parar pra pensar um pouco, uma pessoa nunca consegue estar totalmente livre. Algo sempre vai nos prender. Eu poderia dar vários exemplos de experiência própria aqui, mas não preciso entrar nesse mérito. E, na maioria das vezes, o que mais vai me prender é o medo. Acho que tenho medo de ser livre, de me desprender do que sempre esteve grudado – odeio esta palavra. O medo do que eu desconheço sempre me acompanhou. A angústia de não saber o que me espera a cada piscar de olhos, a cada passo, a cada suspiro que eu dou. Porque é sempre assim, ou acontece algo muito bom ou de repente, vem alguma bomba e desmorona tudo de vez. Agora um novo ano chega e com ele, a vontade de querer fazer, de querer planejar, de querer concretizar vários desejos. Juntos com todos esses planos e sonhos vem o medo do fracasso. Colocar a coragem em primeiro lugar e ir de encontro à realização dos meus planos nunca é fácil. Também não gosto do verbo “ir”... Ir para o primeiro dia de aula na escola, na faculdade, no trabalho. Minha dificuldade é intrínseca ao verbo ir, é real. Ir, deixar ir, deixar-se ir. Tudo remete a movimento, rotatividade, mudança. E como as mudanças fazem a gente se endurecer atrás do escudo natural, o medo que ela desperta é o que faz dela tão poderosa. O que não se teme não exerce poder nenhum, afinal. Ir é libertar-se e pra se libertar é necessário abrir algumas feridas, alguns cortes, para que tudo o que tem vida possa sair e te transformar em outra. Ir é saber que algumas coisas vão mudar, mas que ainda assim você tem todas as ferramentas pra continuar fazendo o que sempre fez. Ir é saber reconhecer a essência das coisas e como tudo isso pode se relacionar com o seu eu, ido e mudado. Ir é apostar e perder. Ou ganhar. E, por isso, o medo vem.
O ir é implacável: cedo ou tarde todos vamos. E quando essa hora chegar, você provavelmente não vai estar preparado. E vai sofrer e vai doer. São as feridas do ir cravando em você o que de mais importante você vai levar. Se jogar, acreditando ou não em alguma coisa, é dom de poucos. Deixar-se ir e ver que tudo o que te espera vai ser ainda melhor do que o que te prende a algum lugar pode ser um santo remédio pra dor do ir, mas pensar assim também é dom de poucos. Agora é eu olho no olho comigo mesma. Os cortes são grandes e é preciso renovação. Deixar tudo o que passou, mas levar as cicatrizes do ir. Agora o ir vem, te arrebenta no meio, mas você segue firme. Você vai seguir muito melhor. Recarregado, renovado. As feridas do ir podem te fazer bem. Na teoria isso é lindo, quero ver eu conseguir. Liberdade.
Ir quase nunca é bom.
Mas sem ir, como é que se chega a algum lugar?

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